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16/06/2025

Eficiência Financeira e Inovação Tecnológica: Como Alinhar Projetos de P&D às Novas Diretrizes da ANP para 2025

O setor de petróleo e gás natural enfrenta um período de transformações significativas, impulsionado pela necessidade de transição energética, pela pressão por redução de emissões de gases de efeito estufa e pela busca por maior eficiência operacional e financeira. Nesse contexto, a inovação tecnológica emerge como um elemento fundamental para garantir a competitividade e a sustentabilidade das empresas do setor.

A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), como órgão regulador do setor no Brasil, tem desempenhado um papel crucial no fomento à pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I), por meio da cláusula de PD&I presente nos contratos de exploração e produção. Esta cláusula estabelece que as empresas petrolíferas devem investir um percentual de sua receita bruta em projetos de PD&I, gerando recursos significativos para o desenvolvimento tecnológico do setor.

Para 2025, a ANP estabeleceu novas diretrizes que enfatizam a eficiência financeira e a inovação tecnológica, alinhadas com as tendências globais do setor e com os objetivos de transição energética do país. Segundo o Relatório Anual de Tecnologia e Meio Ambiente 2024 da ANP, os investimentos em PD&I alcançaram R$ 4,2 bilhões, mantendo o patamar elevado dos anos anteriores e reforçando a importância desse mecanismo como fonte de fomento à inovação no setor de energia.

Este artigo analisa como as empresas do setor de petróleo e gás natural podem alinhar seus projetos de P&D às novas diretrizes da ANP para 2025, maximizando a eficiência financeira e o retorno sobre os investimentos em inovação tecnológica. Busca-se compreender as principais tendências, desafios e oportunidades nesse contexto, bem como identificar estratégias e melhores práticas para o desenvolvimento de projetos de P&D que atendam tanto aos requisitos regulatórios quanto aos objetivos estratégicos das empresas.

2. Fundamentação Teórica

2.1 O Cenário Global e as Tendências para o Setor de Petróleo e Gás em 2025

O mercado global de petróleo e gás natural tem enfrentado um cenário complexo nos últimos anos, caracterizado por oferta controlada da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP+), demanda variável, ritmo lento de crescimento macroeconômico, tensões geopolíticas intensificadas e necessidade de transição energética.

Segundo o estudo global "Perspectivas da indústria de óleo e gás" da Deloitte, para 2025, o setor precisa focar em três pilares fundamentais:

  1. Maior disciplina e eficiência financeira: As empresas do setor devem priorizar eficiência na produção e redução de custos para garantir um desempenho robusto e reter a confiança de investidores. Um olhar mais amplo para os dados dos últimos quatro anos revela que as despesas do setor aumentaram em 53%, enquanto o lucro líquido subiu apenas 16%, indicando a necessidade de maior eficiência financeira.
  2. Centralidade no cliente: Em um mercado cada vez mais competitivo e com consumidores mais conscientes sobre questões ambientais, as empresas precisam adotar uma abordagem centrada no cliente, compreendendo suas necessidades e expectativas em relação a produtos e serviços mais sustentáveis.
  3. Retorno sobre investimentos em tecnologia: O setor tem investido significativamente em tecnologia, mas é necessário mensurar o retorno desses investimentos, garantindo que eles contribuam efetivamente para a melhoria da eficiência operacional, a redução de custos e a mitigação de impactos ambientais.

Além disso, o estudo destaca que o incentivo à inovação, parcerias estratégicas, fusões e aquisições, e soluções voltadas à baixa emissão de carbono devem continuar a promover crescimento no setor.

2.2 A Cláusula de PD&I da ANP e as Novas Diretrizes para 2025

A cláusula de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) está presente nos contratos de concessão, cessão onerosa e partilha de produção para exploração e produção de petróleo e gás natural no Brasil. Esta cláusula estabelece que as empresas petrolíferas devem investir um percentual de sua receita bruta em projetos de PD&I.

Nos contratos de concessão, a cláusula de PD&I estabelece que os concessionários devem realizar despesas qualificadas como pesquisa e desenvolvimento em valor correspondente a 1% (um por cento) da receita bruta da produção dos campos que pagam Participação Especial. Nos contratos de partilha de produção e de cessão onerosa, o valor da obrigação corresponde a, respectivamente, 1% (um por cento) e 0,5% (meio por cento) da receita bruta anual dos campos pertencentes aos blocos detalhados e delimitados nos respectivos contratos.

A Resolução ANP nº 918/2023, publicada em 10 de março de 2023, regulamenta o cumprimento dessa obrigação de investimentos, estabelecendo diretrizes, critérios e procedimentos para a aplicação dos recursos. Entre as principais inovações desta resolução, destaca-se a inclusão explícita de temas relacionados à transição energética como áreas prioritárias para investimentos.

Conforme o Art. 1º, § 1º da Resolução, o setor abrange temas relacionados a "petróleo, gás natural, biocombustíveis, outras fontes de energias renováveis, transição energética, descarbonização e petroquímica de primeira e segunda geração". Além disso, a resolução define "transição energética" como o "processo de mudança da matriz energética em direção às fontes de energias renováveis e energias de baixo teor de carbono" (Art. 2º, XXX).

Para 2025, a ANP estabeleceu novas diretrizes que enfatizam:

  1. Foco em sustentabilidade e transição energética: Os projetos voltados à eficiência energética, transição energética e proteção ambiental têm recebido atenção especial. Segundo o Relatório Anual de Tecnologia e Meio Ambiente 2024 da ANP, os investimentos contratados para essas áreas passaram de R$ 264,9 milhões (2020) para R$ 1,88 bilhão (2024), revelando uma mudança de foco na agenda de PD&I regulada para atender aos desafios da sustentabilidade.
  2. Inovação aberta e empreendedorismo: O Programa ANP de Empreendedorismo (NAVE), lançado em 2024, é uma iniciativa de inovação aberta voltada à solução de desafios tecnológicos comuns do setor de energia, por meio da participação de startups. A primeira edição do programa conta com oito empresas petrolíferas participantes que aportarão R$ 28 milhões em recursos da Cláusula de PD&I.
  3. Alinhamento com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS): Uma das inovações do relatório de 2024 é a análise preliminar da contribuição dos projetos de PD&I para os ODS da ONU. A avaliação revelou um alto potencial de contribuição, principalmente para os ODS 7 (Energia limpa e acessível), ODS 9 (Indústria, inovação e infraestrutura) e ODS 13 (Ação contra a mudança global do clima), indicando caminhos para orientar investimentos futuros de forma mais estratégica.
  4. Modernização da fiscalização e das ferramentas de análise: A ANP tem investido na modernização de suas ferramentas de fiscalização e análise, incluindo a realização de auditorias de gestão e tecnologia, e o desenvolvimento de ferramentas computacionais para otimizar a análise das despesas executadas nos projetos de PD&I, aumentando a agilidade e a confiabilidade do processo.

2.3 O Programa de Aceleração da Transição Energética (Paten)

Em janeiro de 2025, foi sancionada a Lei nº 15.103, que institui o Programa de Aceleração da Transição Energética (Paten). Este programa representa um marco importante para o financiamento de projetos de transição energética no Brasil, incluindo aqueles relacionados ao setor de petróleo e gás natural.

O Paten tem como objetivos:

  1. Fomentar o financiamento de projetos de desenvolvimento sustentável, especialmente aqueles relacionados a infraestrutura, pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação tecnológica;
  2. Aproximar as instituições financiadoras das empresas interessadas em desenvolver projetos de desenvolvimento sustentável;
  3. Permitir a utilização de créditos detidos pelas pessoas jurídicas de direito privado perante a União como instrumento de financiamento;
  4. Promover a geração e o uso eficiente da energia de baixo carbono por meio de projetos sustentáveis alinhados aos compromissos de redução de emissão de gases de efeito estufa assumidos pelo Brasil;
  5. Estimular atividades relacionadas à transição energética em regiões carboníferas.

O programa estabelece como setores prioritários o desenvolvimento de tecnologias e produção de combustíveis que reduzam a emissão de gases de efeito estufa, como hidrogênio de baixa emissão de carbono ou hidrogênio verde e seus derivados, captura e armazenamento de carbono, recuperação e valorização energética de resíduos sólidos, entre outros.

O Paten compõe-se de dois instrumentos principais: o Fundo de Garantias para o Desenvolvimento Sustentável (Fundo Verde) e a transação tributária condicionada ao investimento em desenvolvimento sustentável. Esses instrumentos podem complementar os recursos da cláusula de PD&I da ANP, ampliando as possibilidades de financiamento para projetos de inovação tecnológica no setor.

3. Desenvolvimento

3.1 Alinhamento Estratégico entre Projetos de P&D e Diretrizes da ANP

O alinhamento estratégico entre os projetos de P&D das empresas do setor de petróleo e gás natural e as diretrizes da ANP para 2025 é fundamental para maximizar o valor dos investimentos em inovação tecnológica. Esse alinhamento envolve a compreensão das prioridades regulatórias, a identificação de áreas de interesse comum e a estruturação de projetos que atendam tanto aos requisitos da ANP quanto aos objetivos estratégicos das empresas.

3.1.1 Compreensão das Prioridades Regulatórias

As prioridades regulatórias da ANP para 2025 estão claramente direcionadas para a transição energética, a sustentabilidade e a inovação tecnológica. Conforme evidenciado pelo Relatório Anual de Tecnologia e Meio Ambiente 2024, há um foco crescente em projetos relacionados à eficiência energética, transição energética e proteção ambiental.

Para alinhar seus projetos de P&D a essas prioridades, as empresas devem:

  1. Analisar detalhadamente a Resolução ANP nº 918/2023: Esta resolução estabelece as diretrizes, critérios e procedimentos para a aplicação dos recursos da cláusula de PD&I. A compreensão detalhada desse documento é fundamental para identificar as áreas prioritárias e os requisitos específicos para a aprovação de projetos.
  2. Monitorar as comunicações e relatórios da ANP: A agência regularmente publica relatórios, comunicados e outros documentos que fornecem insights sobre suas prioridades e expectativas. O Relatório Anual de Tecnologia e Meio Ambiente, por exemplo, é uma fonte valiosa de informações sobre as tendências e resultados dos investimentos em PD&I.
  3. Participar de eventos e fóruns promovidos pela ANP: Esses eventos oferecem oportunidades para interagir diretamente com representantes da agência, compreender suas perspectivas e esclarecer dúvidas sobre as diretrizes regulatórias.

3.1.2 Identificação de Áreas de Interesse Comum

O alinhamento estratégico também envolve a identificação de áreas de interesse comum entre as prioridades da ANP e os objetivos estratégicos das empresas. Algumas dessas áreas incluem:

  1. Tecnologias de baixo carbono: A ANP tem priorizado projetos relacionados à redução de emissões de gases de efeito estufa, como captura e armazenamento de carbono, hidrogênio verde e biocombustíveis. Essas tecnologias também são estratégicas para as empresas que buscam reduzir sua pegada de carbono e se posicionar competitivamente em um mercado cada vez mais consciente das questões ambientais.
  2. Eficiência operacional e redução de custos: A eficiência financeira é uma das principais diretrizes para o setor em 2025, segundo o estudo da Deloitte. Projetos de P&D que visam melhorar a eficiência operacional, reduzir custos e otimizar processos podem atender tanto a essa diretriz quanto aos objetivos de rentabilidade das empresas.
  3. Digitalização e automação: A modernização das ferramentas de análise e fiscalização da ANP reflete uma tendência mais ampla de digitalização no setor. Projetos relacionados à digitalização, automação, inteligência artificial e análise de dados podem contribuir para a modernização do setor e para a melhoria da eficiência operacional das empresas.
  4. Desenvolvimento de talentos: O Programa de Formação de Recursos Humanos da ANP (PRH-ANP) destinou R$ 42,6 milhões a bolsas e taxas de bancada em 2024, beneficiando 1.171 bolsistas. Projetos que envolvem a formação e capacitação de recursos humanos podem contribuir para esse programa e, ao mesmo tempo, desenvolver talentos para as empresas.

3.1.3 Estruturação de Projetos Alinhados

Com base na compreensão das prioridades regulatórias e na identificação de áreas de interesse comum, as empresas podem estruturar projetos de P&D alinhados às diretrizes da ANP para 2025. Alguns aspectos a considerar nessa estruturação incluem:

  1. Definição clara de objetivos e resultados esperados: Os projetos devem ter objetivos claros e mensuráveis, alinhados tanto às prioridades da ANP quanto aos objetivos estratégicos da empresa. Os resultados esperados devem ser definidos de forma específica, permitindo a avaliação do sucesso do projeto.
  2. Metodologia robusta e inovadora: A metodologia do projeto deve ser robusta e baseada em princípios científicos sólidos, mas também deve incorporar elementos inovadores que contribuam para o avanço do conhecimento no setor.
  3. Equipe qualificada e multidisciplinar: A equipe do projeto deve ser composta por profissionais qualificados e com experiência relevante nas áreas abordadas. A multidisciplinaridade é importante para garantir uma abordagem abrangente e inovadora.
  4. Orçamento detalhado e justificado: O orçamento do projeto deve ser detalhado e justificado, demonstrando a eficiência na alocação de recursos e o valor esperado para cada investimento.
  5. Plano de gestão de riscos: O projeto deve incluir um plano de gestão de riscos que identifique os principais riscos técnicos, financeiros e operacionais, bem como as estratégias para mitigá-los.
  6. Estratégia de comunicação e disseminação de resultados: O projeto deve prever mecanismos para a comunicação e disseminação dos resultados, contribuindo para o avanço do conhecimento no setor e para a transparência no uso dos recursos da cláusula de PD&I.

3.2 Maximização da Eficiência Financeira em Projetos de P&D

A eficiência financeira é uma das principais diretrizes para o setor de petróleo e gás em 2025, conforme destacado pelo estudo da Deloitte. Para maximizar a eficiência financeira em projetos de P&D, as empresas podem adotar diversas estratégias:

3.2.1 Análise de Valor e Priorização de Projetos

A análise de valor e a priorização de projetos são fundamentais para garantir que os recursos limitados sejam alocados de forma eficiente. Essa análise deve considerar:

  1. Valor estratégico: Avaliação do alinhamento do projeto com os objetivos estratégicos da empresa e com as prioridades da ANP.
  2. Potencial de retorno: Estimativa do retorno esperado do projeto, considerando tanto benefícios financeiros diretos (como redução de custos ou aumento de receitas) quanto benefícios indiretos (como melhoria da imagem da empresa ou desenvolvimento de competências).
  3. Risco técnico e financeiro: Avaliação dos riscos associados ao projeto e da probabilidade de sucesso.
  4. Custo e prazo: Análise do custo total do projeto e do prazo necessário para sua execução e para a obtenção de resultados.

Com base nessa análise, as empresas podem priorizar os projetos com maior potencial de valor e menor risco, maximizando o retorno sobre os investimentos em P&D.

3.2.2 Gestão Eficiente de Projetos

A gestão eficiente de projetos é essencial para garantir que os recursos sejam utilizados de forma otimizada e que os objetivos sejam alcançados dentro do prazo e do orçamento previstos. Algumas práticas recomendadas incluem:

  1. Adoção de metodologias ágeis: Metodologias ágeis, como Scrum ou Kanban, podem aumentar a eficiência na gestão de projetos de P&D, permitindo maior flexibilidade, iteração rápida e foco nos resultados.
  2. Monitoramento contínuo de desempenho: O desempenho do projeto deve ser monitorado continuamente, com base em indicadores claros e mensuráveis, permitindo a identificação precoce de desvios e a implementação de ações corretivas.
  3. Gestão rigorosa de custos: Os custos do projeto devem ser geridos de forma rigorosa, com controle detalhado das despesas e busca constante por eficiência na alocação de recursos.
  4. Comunicação eficaz: A comunicação entre os membros da equipe do projeto, os stakeholders internos e externos, e a ANP deve ser clara, transparente e eficaz, evitando mal-entendidos e retrabalho.
  5. Gestão de conhecimento: O conhecimento gerado durante o projeto deve ser adequadamente documentado e compartilhado, permitindo seu aproveitamento em projetos futuros e evitando a duplicação de esforços.

3.2.3 Parcerias e Colaborações

As parcerias e colaborações podem contribuir significativamente para a maximização da eficiência financeira em projetos de P&D, permitindo a partilha de custos, riscos e conhecimentos. Algumas possibilidades incluem:

  1. Parcerias com instituições de pesquisa: Colaborações com universidades, institutos de pesquisa e outras instituições credenciadas pela ANP podem trazer expertise especializada e acesso a infraestrutura de pesquisa, além de permitir o aproveitamento de incentivos específicos para esse tipo de parceria.
  2. Consórcios de empresas: A formação de consórcios entre empresas do setor para o desenvolvimento conjunto de projetos de P&D pode permitir a partilha de custos e riscos, além de facilitar a troca de conhecimentos e experiências.
  3. Participação em programas de inovação aberta: Programas como o NAVE, da ANP, oferecem oportunidades para colaborações com startups e outras empresas inovadoras, trazendo novas perspectivas e soluções para os desafios do setor.
  4. Parcerias internacionais: Colaborações com empresas, instituições de pesquisa e agências governamentais de outros países podem trazer acesso a conhecimentos, tecnologias e mercados globais, ampliando o potencial de impacto dos projetos de P&D.

3.3 Inovação Tecnológica e Retorno sobre Investimentos

O retorno sobre os investimentos em tecnologia é uma das principais diretrizes para o setor de petróleo e gás em 2025, conforme destacado pelo estudo da Deloitte. Para maximizar esse retorno, as empresas precisam adotar uma abordagem estratégica para a inovação tecnológica, focando em áreas com maior potencial de impacto e implementando mecanismos eficazes para a mensuração e gestão do retorno.

3.3.1 Áreas Prioritárias para Inovação Tecnológica

Com base nas diretrizes da ANP para 2025 e nas tendências do setor, algumas áreas prioritárias para inovação tecnológica incluem:

  1. Tecnologias de baixo carbono: Desenvolvimento e implementação de tecnologias que reduzam as emissões de gases de efeito estufa, como captura e armazenamento de carbono, hidrogênio verde, biocombustíveis e energias renováveis.
  2. Digitalização e automação: Aplicação de tecnologias digitais, como inteligência artificial, internet das coisas, big data e automação, para melhorar a eficiência operacional, reduzir custos e aumentar a segurança nas operações de exploração, produção, refino e distribuição.
  3. Eficiência energética: Desenvolvimento de tecnologias e processos que aumentem a eficiência energética nas operações do setor, reduzindo o consumo de energia e as emissões associadas.
  4. Armazenamento de energia: Pesquisa e desenvolvimento de tecnologias de armazenamento de energia, como baterias avançadas, hidrogênio e outros sistemas, que são fundamentais para a integração de fontes renováveis intermitentes na matriz energética.
  5. Materiais avançados: Desenvolvimento e aplicação de materiais avançados, como nanomateriais, compósitos e materiais inteligentes, que podem melhorar o desempenho, a durabilidade e a eficiência de equipamentos e infraestruturas do setor.

3.3.2 Mensuração e Gestão do Retorno sobre Investimentos em Tecnologia

A mensuração e gestão do retorno sobre investimentos em tecnologia são fundamentais para garantir que os recursos sejam alocados de forma eficiente e que os benefícios esperados sejam efetivamente realizados. Algumas abordagens incluem:

  1. Definição de métricas claras: Estabelecimento de métricas claras e mensuráveis para avaliar o retorno dos investimentos em tecnologia, considerando tanto aspectos financeiros (como redução de custos, aumento de receitas e retorno sobre investimento) quanto não financeiros (como melhoria da segurança, redução de emissões e desenvolvimento de competências).
  2. Análise de custo-benefício: Realização de análises detalhadas de custo-benefício para cada projeto de P&D, considerando todos os custos e benefícios ao longo do ciclo de vida da tecnologia.
  3. Avaliação de impacto: Implementação de metodologias para avaliar o impacto das tecnologias desenvolvidas, considerando aspectos técnicos, econômicos, ambientais e sociais.
  4. Gestão de portfólio de tecnologias: Adoção de uma abordagem de gestão de portfólio para os investimentos em tecnologia, equilibrando projetos de diferentes níveis de risco, prazo e potencial de retorno.
  5. Aprendizado contínuo: Estabelecimento de mecanismos para o aprendizado contínuo a partir dos resultados dos projetos de P&D, permitindo a melhoria constante dos processos de inovação e a maximização do retorno sobre os investimentos.

3.3.3 Casos de Sucesso e Lições Aprendidas

A análise de casos de sucesso e lições aprendidas em projetos de P&D no setor de petróleo e gás pode fornecer insights valiosos para a maximização do retorno sobre investimentos em tecnologia. Alguns exemplos incluem:

  1. Programa de Inovação Aberta NAVE: O Programa ANP de Empreendedorismo (NAVE) é uma iniciativa de inovação aberta que conecta empresas petrolíferas com startups para solucionar desafios tecnológicos do setor. A primeira edição do programa recebeu 262 inscrições válidas de startups de 18 estados brasileiros, cobrindo 85% dos 67 desafios tecnológicos propostos. Esse modelo de inovação aberta permite o acesso a soluções inovadoras com investimento relativamente baixo, maximizando o retorno sobre os recursos da cláusula de PD&I.
  2. Projetos de Captura e Armazenamento de Carbono: Diversas empresas do setor têm investido em projetos de captura e armazenamento de carbono, que além de contribuírem para a redução de emissões, podem gerar retorno financeiro por meio da venda de créditos de carbono ou da utilização do CO₂ capturado em processos como a recuperação avançada de petróleo.
  3. Digitalização de Campos de Petróleo: A implementação de tecnologias digitais em campos de petróleo, como sensores, internet das coisas e análise de dados, tem permitido aumentar a eficiência operacional, reduzir custos e prolongar a vida útil dos campos, gerando retorno significativo sobre os investimentos.

As lições aprendidas desses casos incluem a importância da colaboração entre diferentes atores (empresas, startups, instituições de pesquisa), a necessidade de uma abordagem sistemática para a inovação, e o valor da experimentação e do aprendizado contínuo.

4. Oportunidades e Desafios

4.1 Oportunidades para Alinhamento de Projetos de P&D às Diretrizes da ANP

O cenário atual apresenta diversas oportunidades para o alinhamento de projetos de P&D às diretrizes da ANP para 2025, entre as quais se destacam:

4.1.1 Programa de Aceleração da Transição Energética (Paten)

O Paten, instituído pela Lei nº 15.103/2025, representa uma oportunidade significativa para o financiamento de projetos de P&D alinhados às diretrizes da ANP. O programa estabelece como setores prioritários o desenvolvimento de tecnologias e produção de combustíveis que reduzam a emissão de gases de efeito estufa, como hidrogênio verde, captura e armazenamento de carbono, e recuperação e valorização energética de resíduos sólidos, que estão alinhados com as prioridades da ANP.

As empresas podem aproveitar os instrumentos do Paten, como o Fundo de Garantias para o Desenvolvimento Sustentável (Fundo Verde) e a transação tributária condicionada ao investimento em desenvolvimento sustentável, para complementar os recursos da cláusula de PD&I da ANP, ampliando o escopo e o impacto de seus projetos de P&D.

4.1.2 Programa ANP de Empreendedorismo (NAVE)

O NAVE, lançado em 2024, é uma iniciativa de inovação aberta que conecta empresas petrolíferas com startups para solucionar desafios tecnológicos do setor. A primeira edição do programa conta com oito empresas petrolíferas participantes que aportarão R$ 28 milhões em recursos da Cláusula de PD&I.

As empresas podem aproveitar essa iniciativa para:

  1. Identificar e colaborar com startups inovadoras que possam trazer soluções para seus desafios tecnológicos;
  2. Compartilhar custos e riscos com outras empresas do setor;
  3. Acelerar o desenvolvimento e a implementação de novas tecnologias;
  4. Cumprir suas obrigações relacionadas à cláusula de PD&I de forma eficiente e alinhada às diretrizes da ANP.

4.1.3 Alinhamento com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)

A análise preliminar da contribuição dos projetos de PD&I para os ODS da ONU, apresentada no Relatório Anual de Tecnologia e Meio Ambiente 2024 da ANP, revela um alto potencial de contribuição, principalmente para os ODS 7 (Energia limpa e acessível), ODS 9 (Indústria, inovação e infraestrutura) e ODS 13 (Ação contra a mudança global do clima).

As empresas podem aproveitar essa oportunidade para:

  1. Alinhar seus projetos de P&D com os ODS, demonstrando seu compromisso com a sustentabilidade e a responsabilidade social;
  2. Comunicar de forma eficaz a contribuição de seus projetos para os ODS, melhorando sua imagem perante stakeholders e investidores;
  3. Identificar áreas de colaboração com outras organizações comprometidas com os ODS, ampliando o impacto de seus projetos.

4.1.4 Modernização das Ferramentas de Análise e Fiscalização

A ANP tem investido na modernização de suas ferramentas de análise e fiscalização, incluindo a realização de auditorias de gestão e tecnologia, e o desenvolvimento de ferramentas computacionais para otimizar a análise das despesas executadas nos projetos de PD&I.

Essa modernização representa uma oportunidade para as empresas:

  1. Melhorar a transparência e a eficiência na gestão de seus projetos de P&D;
  2. Adotar ferramentas e metodologias alinhadas às expectativas da ANP, facilitando a aprovação e o acompanhamento de seus projetos;
  3. Contribuir para o aprimoramento contínuo dos processos de análise e fiscalização, por meio de feedback e sugestões.

4.2 Desafios para Alinhamento de Projetos de P&D às Diretrizes da ANP

Apesar das oportunidades, as empresas também enfrentam diversos desafios para alinhar seus projetos de P&D às diretrizes da ANP para 2025:

4.2.1 Complexidade Regulatória

A regulação do setor de petróleo e gás natural é complexa e está em constante evolução, o que pode dificultar a compreensão e o cumprimento dos requisitos relacionados à cláusula de PD&I. A Resolução ANP nº 918/2023, por exemplo, introduziu diversas mudanças nas diretrizes para a aplicação dos recursos, exigindo adaptação por parte das empresas.

Para enfrentar esse desafio, as empresas podem:

  1. Investir na capacitação de suas equipes sobre a regulação do setor e as diretrizes da ANP;
  2. Estabelecer canais de comunicação eficazes com a ANP para esclarecer dúvidas e obter orientações;
  3. Participar ativamente de fóruns e eventos do setor, onde essas questões são discutidas;
  4. Considerar a contratação de consultoria especializada para auxiliar na navegação pelo ambiente regulatório.

4.2.2 Incertezas Tecnológicas e de Mercado

O desenvolvimento de novas tecnologias, especialmente aquelas relacionadas à transição energética, envolve incertezas significativas, tanto em termos técnicos quanto de mercado. Tecnologias como o hidrogênio verde, a captura e armazenamento de carbono, e as energias renováveis ainda estão em desenvolvimento e sua viabilidade econômica em larga escala ainda não está completamente estabelecida.

Para lidar com essas incertezas, as empresas podem:

  1. Adotar uma abordagem de gestão de portfólio para seus investimentos em P&D, equilibrando projetos de diferentes níveis de risco e maturidade tecnológica;
  2. Realizar análises detalhadas de viabilidade técnica e econômica antes de investir em novas tecnologias;
  3. Estabelecer parcerias e colaborações para compartilhar riscos e conhecimentos;
  4. Implementar processos de monitoramento contínuo do ambiente tecnológico e de mercado, permitindo ajustes rápidos em resposta a mudanças.

4.2.3 Restrições de Recursos

Apesar do volume significativo de recursos gerados pela cláusula de PD&I (R$ 4,2 bilhões em 2024), as empresas enfrentam restrições em termos de recursos humanos, infraestrutura e capacidade de gestão para desenvolver e implementar projetos de P&D alinhados às diretrizes da ANP.

Para superar essas restrições, as empresas podem:

  1. Priorizar projetos com maior potencial de impacto e alinhamento estratégico;
  2. Estabelecer parcerias com instituições de pesquisa, outras empresas e startups para complementar suas capacidades;
  3. Investir no desenvolvimento de competências internas em áreas prioritárias;
  4. Adotar metodologias ágeis e eficientes para a gestão de projetos de P&D.

4.2.4 Mensuração de Resultados e Impactos

A mensuração dos resultados e impactos dos projetos de P&D, especialmente aqueles relacionados à transição energética e à sustentabilidade, pode ser desafiadora, dada a natureza de longo prazo e os múltiplos aspectos (técnicos, econômicos, ambientais e sociais) envolvidos.

Para enfrentar esse desafio, as empresas podem:

  1. Desenvolver frameworks abrangentes para a avaliação de impacto, considerando diferentes dimensões e horizontes temporais;
  2. Estabelecer métricas claras e mensuráveis para cada projeto, alinhadas aos seus objetivos específicos;
  3. Implementar sistemas de monitoramento contínuo para acompanhar o progresso e os resultados dos projetos;
  4. Realizar avaliações periódicas e independentes para validar os resultados e identificar oportunidades de melhoria.

4.3 Tendências e Perspectivas Futuras

As tendências e perspectivas futuras para o alinhamento de projetos de P&D às diretrizes da ANP incluem:

4.3.1 Intensificação do Foco em Transição Energética

A transição energética deve continuar sendo uma prioridade para a ANP e para o setor de petróleo e gás natural nos próximos anos, com ênfase crescente em tecnologias de baixo carbono, energias renováveis e eficiência energética. Essa tendência é impulsionada por compromissos internacionais, como o Acordo de Paris, e por pressões de investidores, consumidores e sociedade civil por práticas mais sustentáveis.

As empresas que se anteciparem a essa tendência, investindo em projetos de P&D alinhados à transição energética, estarão melhor posicionadas para aproveitar oportunidades e enfrentar desafios futuros.

4.3.2 Maior Integração entre Diferentes Fontes de Financiamento

A integração entre diferentes fontes de financiamento para projetos de P&D, como a cláusula de PD&I da ANP, o Paten, fundos de investimento privados e recursos de agências de fomento (FINEP, BNDES, EMBRAPII6987 entre outras), deve se intensificar nos próximos anos. Essa integração pode permitir a ampliação do escopo e do impacto dos projetos, bem como a diluição de riscos e custos.

As empresas que desenvolverem competências para navegar por esse ecossistema complexo de financiamento e para estruturar projetos que aproveitem diferentes fontes de recursos estarão em vantagem competitiva.

4.3.3 Avanço da Digitalização e da Inteligência Artificial

A digitalização e a inteligência artificial devem continuar avançando no setor de petróleo e gás natural, transformando processos, produtos e modelos de negócio. Essas tecnologias têm o potencial de aumentar significativamente a eficiência operacional, reduzir custos e melhorar a tomada de decisão, contribuindo para a eficiência financeira e para a inovação tecnológica.

As empresas que investirem em projetos de P&D relacionados à digitalização e à inteligência artificial, alinhados às diretrizes da ANP, poderão obter vantagens competitivas significativas.

4.3.4 Crescimento da Inovação Aberta e das Parcerias

A inovação aberta e as parcerias entre diferentes atores do ecossistema de inovação (empresas, startups, instituições de pesquisa, agências governamentais) devem continuar crescendo, impulsionadas por iniciativas como o Programa NAVE da ANP. Esse modelo de inovação permite o acesso a um conjunto mais amplo de conhecimentos, tecnologias e talentos, acelerando o desenvolvimento e a implementação de soluções inovadoras.

As empresas que adotarem uma abordagem aberta e colaborativa para a inovação, estabelecendo parcerias estratégicas e participando de programas de inovação aberta, estarão melhor posicionadas para alinhar seus projetos de P&D às diretrizes da ANP e para maximizar o retorno sobre seus investimentos em tecnologia.

5. Estratégias e Recomendações

5.1 Estratégias para Alinhamento de Projetos de P&D às Diretrizes da ANP

Para alinhar efetivamente seus projetos de P&D às diretrizes da ANP para 2025, as empresas do setor de petróleo e gás natural podem adotar as seguintes estratégias:

5.1.1 Desenvolvimento de um Roadmap Tecnológico Alinhado

O desenvolvimento de um roadmap tecnológico alinhado às diretrizes da ANP e aos objetivos estratégicos da empresa é fundamental para orientar os investimentos em P&D de forma coerente e eficaz. Esse roadmap deve:

  1. Identificar as áreas tecnológicas prioritárias, considerando as diretrizes da ANP, as tendências do setor e os objetivos estratégicos da empresa;
  2. Estabelecer metas claras e mensuráveis para cada área tecnológica, com horizontes de curto, médio e longo prazo;
  3. Definir os recursos necessários (financeiros, humanos, infraestrutura) para alcançar essas metas;
  4. Identificar potenciais parceiros e colaboradores para cada área tecnológica;
  5. Estabelecer mecanismos de monitoramento e revisão periódica do roadmap, permitindo ajustes em resposta a mudanças no ambiente regulatório, tecnológico e de mercado.

5.1.2 Implementação de um Processo Estruturado de Gestão de Projetos de P&D

A implementação de um processo estruturado de gestão de projetos de P&D, alinhado às diretrizes da ANP, é essencial para garantir a eficiência e a eficácia dos investimentos. Esse processo deve incluir:

  1. Identificação e seleção de projetos: Estabelecimento de critérios claros para a identificação e seleção de projetos, considerando o alinhamento com as diretrizes da ANP, o potencial de impacto, o risco técnico e financeiro, e a disponibilidade de recursos.
  2. Planejamento detalhado: Elaboração de planos detalhados para cada projeto, incluindo objetivos, escopo, cronograma, orçamento, equipe, riscos e estratégias de mitigação.
  3. Execução e monitoramento: Implementação dos projetos de acordo com os planos estabelecidos, com monitoramento contínuo do progresso, dos resultados e dos riscos.
  4. Avaliação e aprendizado: Realização de avaliações periódicas dos projetos, identificando lições aprendidas e oportunidades de melhoria.
  5. Comunicação e relatórios: Estabelecimento de canais eficazes de comunicação com stakeholders internos e externos, incluindo a ANP, e elaboração de relatórios claros e completos sobre os projetos.

5.1.3 Estabelecimento de Parcerias Estratégicas

O estabelecimento de parcerias estratégicas com diferentes atores do ecossistema de inovação pode contribuir significativamente para o alinhamento de projetos de P&D às diretrizes da ANP. Essas parcerias podem incluir:

  1. Instituições de pesquisa: Universidades, institutos de pesquisa e outras instituições credenciadas pela ANP podem trazer expertise especializada e acesso a infraestrutura de pesquisa.
  2. Outras empresas do setor: Parcerias com outras empresas do setor podem permitir a partilha de custos, riscos e conhecimentos, além de facilitar o desenvolvimento de soluções para desafios comuns.
  3. Startups e empresas de tecnologia: Colaborações com startups e empresas de tecnologia, como as promovidas pelo Programa NAVE da ANP, podem trazer soluções inovadoras e agilidade no desenvolvimento de novas tecnologias.
  4. Agências governamentais e organizações internacionais: Parcerias com agências governamentais e organizações internacionais podem facilitar o acesso a recursos, conhecimentos e redes globais.

5.1.4 Desenvolvimento de Competências Internas

O desenvolvimento de competências internas nas áreas prioritárias identificadas no roadmap tecnológico é fundamental para o sucesso dos projetos de P&D. Isso pode envolver:

  1. Capacitação da equipe: Investimento na capacitação da equipe existente, por meio de treinamentos, workshops, participação em conferências e outras atividades de desenvolvimento profissional.
  2. Contratação de talentos: Recrutamento de profissionais com expertise nas áreas prioritárias, complementando as competências existentes na empresa.
  3. Desenvolvimento de uma cultura de inovação: Promoção de uma cultura organizacional que valorize a inovação, a experimentação e o aprendizado contínuo.
  4. Estabelecimento de centros de excelência: Criação de centros de excelência em áreas tecnológicas específicas, concentrando recursos e expertise para acelerar o desenvolvimento de soluções inovadoras.

5.2 Recomendações para Maximização da Eficiência Financeira

Para maximizar a eficiência financeira em projetos de P&D alinhados às diretrizes da ANP, recomenda-se:

5.2.1 Implementação de um Sistema de Gestão de Portfólio

A implementação de um sistema de gestão de portfólio para os projetos de P&D pode contribuir significativamente para a maximização da eficiência financeira. Esse sistema deve:

  1. Categorizar os projetos: Classificar os projetos de acordo com critérios como nível de risco, horizonte temporal, área tecnológica e alinhamento estratégico.
  2. Balancear o portfólio: Garantir um equilíbrio adequado entre projetos de diferentes categorias, considerando os objetivos estratégicos da empresa e as diretrizes da ANP.
  3. Alocar recursos de forma otimizada: Distribuir os recursos disponíveis (financeiros, humanos, infraestrutura) entre os projetos de forma a maximizar o valor total do portfólio.
  4. Monitorar e ajustar continuamente: Acompanhar o desempenho do portfólio como um todo e de cada projeto individualmente, realizando ajustes quando necessário.

5.2.2 Adoção de Metodologias Ágeis

A adoção de metodologias ágeis para a gestão de projetos de P&D pode aumentar a eficiência financeira, permitindo:

  1. Iteração rápida e feedback contínuo: Desenvolvimento iterativo e incremental, com ciclos curtos de feedback, permitindo ajustes rápidos e redução de desperdícios.
  2. Foco em valor: Priorização de funcionalidades e atividades que agregam mais valor, maximizando o retorno sobre o investimento.
  3. Equipes multidisciplinares e auto-organizadas: Formação de equipes multidisciplinares e auto-organizadas, que podem responder mais rapidamente a desafios e oportunidades.
  4. Transparência e visibilidade: Maior transparência e visibilidade sobre o progresso e os resultados dos projetos, facilitando a tomada de decisão e o alinhamento com stakeholders.

5.2.3 Utilização Estratégica de Diferentes Fontes de Financiamento

A utilização estratégica de diferentes fontes de financiamento pode contribuir para a maximização da eficiência financeira em projetos de P&D. Isso pode envolver:

  1. Combinação de recursos da cláusula de PD&I com outras fontes: Integração dos recursos da cláusula de PD&I da ANP com outras fontes, como o Paten, fundos de investimento privados e recursos de agências de fomento.
  2. Estruturação de projetos em fases: Divisão de projetos em fases, com diferentes fontes de financiamento para cada fase, de acordo com o nível de risco e o potencial de retorno.
  3. Aproveitamento de incentivos fiscais: Utilização de incentivos fiscais disponíveis para atividades de P&D, como a Lei do Bem (Lei nº 11.196/2005), complementando os recursos da cláusula de PD&I.
  4. Participação em programas de fomento: Participação em programas de fomento à inovação promovidos por agências como a Finep, o BNDES e o CNPq, que podem oferecer recursos não reembolsáveis ou financiamentos em condições favoráveis.

5.2.4 Implementação de Sistemas de Controle e Análise de Custos

A implementação de sistemas robustos de controle e análise de custos é fundamental para a maximização da eficiência financeira em projetos de P&D. Esses sistemas devem:

  1. Monitorar detalhadamente os custos: Acompanhar de forma detalhada os custos de cada projeto, identificando desvios em relação ao orçamento e oportunidades de economia.
  2. Analisar o valor agregado: Utilizar técnicas de análise de valor agregado para avaliar o desempenho dos projetos em termos de custo e prazo, permitindo a identificação precoce de problemas.
  3. Identificar e eliminar desperdícios: Identificar e eliminar atividades que não agregam valor, reduzindo desperdícios e aumentando a eficiência.
  4. Realizar benchmarking: Comparar os custos e a eficiência dos projetos com referências internas e externas, identificando oportunidades de melhoria.

5.3 Melhores Práticas para Mensuração e Gestão do Retorno sobre Investimentos em Tecnologia

Para mensurar e gerir eficazmente o retorno sobre investimentos em tecnologia, recomenda-se a adoção das seguintes melhores práticas:

5.3.1 Estabelecimento de um Framework Abrangente de Avaliação

O estabelecimento de um framework abrangente para a avaliação do retorno sobre investimentos em tecnologia é fundamental para uma gestão eficaz. Esse framework deve:

  1. Considerar múltiplas dimensões: Incluir métricas relacionadas a diferentes dimensões, como financeira (redução de custos, aumento de receitas, retorno sobre investimento), operacional (aumento de eficiência, redução de tempo de ciclo), ambiental (redução de emissões, economia de recursos) e social (melhoria da segurança, desenvolvimento de competências).
  2. Abranger diferentes horizontes temporais: Contemplar métricas de curto, médio e longo prazo, reconhecendo que alguns benefícios da inovação tecnológica podem levar tempo para se materializar.
  3. Incluir indicadores leading e lagging: Incorporar tanto indicadores leading (que antecipam resultados futuros) quanto lagging (que medem resultados passados), permitindo uma visão mais completa do desempenho.
  4. Ser adaptável e evolutivo: Permitir ajustes e evoluções ao longo do tempo, em resposta a mudanças no ambiente tecnológico, regulatório e de mercado.

5.3.2 Implementação de Processos de Avaliação Contínua

A implementação de processos de avaliação contínua do retorno sobre investimentos em tecnologia é essencial para uma gestão eficaz. Esses processos devem:

  1. Estabelecer uma linha de base: Definir uma linha de base clara para cada projeto, contra a qual o desempenho será medido.
  2. Realizar avaliações periódicas: Conduzir avaliações periódicas do desempenho dos projetos, utilizando as métricas estabelecidas no framework de avaliação.
  3. Envolver stakeholders relevantes: Incluir stakeholders relevantes (equipe do projeto, gestores, parceiros, ANP) nas avaliações, garantindo diferentes perspectivas e maior comprometimento com os resultados.
  4. Documentar e comunicar os resultados: Documentar e comunicar de forma clara e transparente os resultados das avaliações, facilitando a tomada de decisão e o aprendizado organizacional.

5.3.3 Utilização de Técnicas Avançadas de Análise

A utilização de técnicas avançadas de análise pode contribuir significativamente para a mensuração e gestão do retorno sobre investimentos em tecnologia. Essas técnicas incluem:

  1. Análise de valor presente líquido (VPL): Cálculo do valor presente líquido dos fluxos de caixa esperados dos projetos, considerando o custo de capital da empresa.
  2. Análise de opções reais: Aplicação da teoria de opções financeiras para avaliar projetos de P&D, reconhecendo o valor da flexibilidade e das opções estratégicas.
  3. Simulação de Monte Carlo: Utilização de simulações para modelar a incerteza e o risco associados aos projetos, permitindo uma avaliação mais robusta do retorno esperado.
  4. Análise de sensibilidade e cenários: Realização de análises de sensibilidade e de cenários para compreender como diferentes fatores podem afetar o retorno dos projetos.

5.3.4 Desenvolvimento de uma Cultura de Aprendizado e Melhoria Contínua

O desenvolvimento de uma cultura de aprendizado e melhoria contínua é fundamental para maximizar o retorno sobre investimentos em tecnologia ao longo do tempo. Isso envolve:

  1. Captura e compartilhamento de lições aprendidas: Estabelecimento de mecanismos para capturar e compartilhar lições aprendidas em projetos de P&D, evitando a repetição de erros e facilitando a replicação de sucessos.
  2. Realização de revisões pós-projeto: Condução de revisões detalhadas após a conclusão dos projetos, identificando o que funcionou bem, o que poderia ser melhorado e como aplicar essas lições em projetos futuros.
  3. Promoção de comunidades de prática: Criação e apoio a comunidades de prática em áreas tecnológicas específicas, facilitando a troca de conhecimentos e experiências entre profissionais.
  4. Incentivo à experimentação e à inovação: Estabelecimento de um ambiente que valorize a experimentação e a inovação, reconhecendo que nem todos os projetos serão bem-sucedidos, mas que o aprendizado é valioso mesmo em caso de falha.

6. Conclusão

A eficiência financeira e a inovação tecnológica são pilares fundamentais para o setor de petróleo e gás natural em 2025, conforme destacado pelo estudo da Deloitte e pelas diretrizes da ANP. O alinhamento de projetos de P&D a essas diretrizes representa tanto um desafio quanto uma oportunidade para as empresas do setor.

As diretrizes da ANP para 2025 enfatizam a transição energética, a sustentabilidade, a inovação aberta e o alinhamento com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, refletindo uma mudança significativa no foco da agenda de PD&I regulada. Essa mudança é evidenciada pelo aumento expressivo dos investimentos em projetos voltados à eficiência energética, transição energética e proteção ambiental, que passaram de R$ 264,9 milhões em 2020 para R$ 1,88 bilhão em 2024.

Para alinhar efetivamente seus projetos de P&D a essas diretrizes, as empresas precisam adotar uma abordagem estratégica, que inclui o desenvolvimento de um roadmap tecnológico alinhado, a implementação de um processo estruturado de gestão de projetos, o estabelecimento de parcerias estratégicas e o desenvolvimento de competências internas nas áreas prioritárias.

A maximização da eficiência financeira em projetos de P&D requer a implementação de um sistema de gestão de portfólio, a adoção de metodologias ágeis, a utilização estratégica de diferentes fontes de financiamento e a implementação de sistemas robustos de controle e análise de custos. Essas práticas podem contribuir significativamente para a otimização dos recursos e para a maximização do retorno sobre os investimentos.

A mensuração e gestão do retorno sobre investimentos em tecnologia, por sua vez, demandam o estabelecimento de um framework abrangente de avaliação, a implementação de processos de avaliação contínua, a utilização de técnicas avançadas de análise e o desenvolvimento de uma cultura de aprendizado e melhoria contínua. Essas práticas permitem uma compreensão mais profunda do valor gerado pelos investimentos em tecnologia e facilitam a tomada de decisão baseada em evidências.

O Programa de Aceleração da Transição Energética (Paten), instituído pela Lei nº 15.103/2025, representa uma oportunidade significativa para o financiamento de projetos de P&D alinhados às diretrizes da ANP, estabelecendo como setores prioritários o desenvolvimento de tecnologias e produção de combustíveis que reduzam a emissão de gases de efeito estufa. As empresas podem aproveitar os instrumentos do Paten para complementar os recursos da cláusula de PD&I da ANP, ampliando o escopo e o impacto de seus projetos.

Em um cenário de transformações significativas no setor de petróleo e gás natural, impulsionadas pela necessidade de transição energética e pela busca por maior eficiência operacional e financeira, a inovação tecnológica emerge como um elemento fundamental para garantir a competitividade e a sustentabilidade das empresas. Aquelas que conseguirem alinhar efetivamente seus projetos de P&D às diretrizes da ANP para 2025, maximizando a eficiência financeira e o retorno sobre os investimentos em tecnologia, estarão melhor posicionadas para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades desse novo contexto.

7. Referências

  1. Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). (2023). Resolução ANP nº 918, de 10 de março de 2023. Disponível em: https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=443167

 

  1. Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). (2025). Relatório Anual de Tecnologia e Meio Ambiente 2024. Disponível em: https://www.gov.br/anp/pt-br/canais_atendimento/imprensa/noticias-comunicados/anp-publica-relatorio-anual-2024-com-avancos-em-inovacao-meio-ambiente-e-transicao-energetica

 

  1. Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). (2024). Plano Anual de Fiscalização 2025. Disponível em: https://www.gov.br/anp/pt-br/canais_atendimento/imprensa/noticias-comunicados/anp-aprova-plano-anual-de-fiscalizacao-de-2025

 

  1. Brasil. (2025). Lei nº 15.103, de 22 de janeiro de 2025. Institui o Programa de Aceleração da Transição Energética (Paten). Disponível em: https://anvisalegis.datalegis.net/action/ActionDatalegis.php?acao=detalharAto&tipo=LEI&numeroAto=00015103&seqAto=000&valorAno=2025&orgao=NI&nomeTitulo=codigos&desItem=&desItemFim=&cod_modulo=631&cod_menu=9381

 

  1. Deloitte. (2025). Perspectivas da indústria de óleo e gás. Disponível em: https://tnpetroleo.com.br/noticia/em-2025-industria-de-petroleo-e-gas-deve-focar-em-eficiencia-financeira-e-retorno-de-investimentos-em-tecnologia/

 

  1. Empresa de Pesquisa Energética (EPE). (2024). Panorama dos investimentos de inovação em energia no Brasil. Disponível em: https://www.epe.gov.br/sites-pt/publicacoes-dados-abertos/publicacoes/PublicacoesArquivos/publicacao-621/topico-657/Inova-e%202024_port.pdf

 

  1. Ministério de Minas e Energia (MME). (2025). Programa Nacional de Hidrogênio - PNH2. Disponível em: https://www.gov.br/mme/pt-br/programa-nacional-do-hidrogenio-1

 

  1. TN Petróleo. (2025). Em 2025, indústria de petróleo e gás deve focar em eficiência financeira e retorno de investimentos em tecnologia. Disponível em: https://tnpetroleo.com.br/noticia/em-2025-industria-de-petroleo-e-gas-deve-focar-em-eficiencia-financeira-e-retorno-de-investimentos-em-tecnologia/

 

  1. TN Sustentável. (2022). Brasil deve produzir hidrogênio em escala até 2025. Disponível em: https://tnsustentavel.eco.br/noticia/brasil-deve-produzir-hidrogenio-em-escala-ate-2025/?page=2

 

  1. Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). (2024). Programa ANP de Empreendedorismo (NAVE). Disponível em: https://www.instagram.com/anpgovbr/reel/DAUEpkxS3oJ/

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